quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

TIRO ERRADO...!


Diante de uma Bienal conturbada, próspera de desgostos e principalmente inerte sobre o olhar artístico nacional, o público tornou-se apenas números, os artistas expositores coadjuvantes e os protagonistas foram Ivo Mesquita e Ana Paula Cohen, curadores da 28ª edição da Bienal de Arte de São Paulo. Durante a quarentena que perdurou entre os dias 26 de outubro e 06 de novembro, aconteceu de tudo, porém, para muitos, nada.


Com a intenção de proporcionar aos visitantes um ambiente de discussão e interação social entre o artista e seu receptor, o que se viu estampado nos jornais e revistas de todo o país, foram à decepção diante dos acontecimentos e a decepção diante dos não acontecimentos artísticos. O peixe necessita da água para sobreviver, assim como a Bienal necessita da arte para não morrer, essa foi a principal comparação feita pelos meios de comunicação sobre o que se passava nos grandes salões brancos do Ibirapuera.


Quando os papeis de um grandioso evento são invertidos, entende-se que houve uma pré-disposição para isso acontecer. Nada surge do nada. Diversas reuniões são feitas com equipes e interessados no projeto, para tudo sair conforme o esperado. Pensar em uma discussão sobre a arte contemporânea, dentro de um espaço voltado para a arte contemporânea causa atrito, desconforto, quando a própria arte não esta em foco.


Talvez os curadores da 28ª Bienal de Arte de São Paulo estivessem passando por um período de pulsação freudiana, o qual nos remete ao surgimento de diferentes sensações em uma fase de interesse individual mútuo. O espaço que era para ser da arte tornou-se comum, no sentido mais perturbador da palavra. Uma Bienal transformada em um ciclo de palestras e descontentamento.


Protestos da classe artística, prisão polêmica, performances entorpecidas pela síndrome de Big Brother, apenas aparecer, tudo muito distante do objetivo. Artistas como Rosângela Rennó em entrevista citaram a Bienal como um “episódio melancólico”. Para Paula Pasta, “nesta bienal sobrou discurso”, tornando-se uma “chatice”.


Com o título “Eu vivo contato”, faltou o contato com a arte e sobrou contato com o simples. O cotidiano é visto todo o dia de forma cega relatou impecavelmente o prêmio Nobel de literatura José Saramago, em Ensaio Sobre a Cegueira. Segundo os curadores esse foi um evento pensado para uma “Bienal estratégica”, com espaço para o discurso. Talvez daqui a dois anos o nome passe para “Bienal do Discurso de São Paulo”.