quarta-feira, 11 de julho de 2012

Crônicas de um Tumor (D10)



     
      Boa tarde a todos. Hoje estou aqui te querendo. Não brincadeira, é que acordei engraçadinho esta manhã. Isso deve ser culpa da medicação, mas como dizem as más línguas, desculpa de aleijado é muleta. No meu caso eu sou canceriano mesmo. Tipo um para ser mais exato, não-seminoma, responsável por 0,08% dos tumores que envolvem os homens, mais freqüentes em indivíduos com idade entre 20 e 40 anos. Interessante né? Talvez! Isso vai depender do seu ponto vista, ou melhor, da sua idade.  

      Gostaria de partilhar um pouco das experiências e informações que tem chego a minhas mãos. Muita por sinal. Hoje por exemplo minha esposa me passou um capítulo do livro “Lance Armstrong – Muito Mais Do Que Um Ciclista Campeão”, onde ele conta a descoberta do seu câncer de testículo e alguns poucos dias depois dessa notícia. Identifiquei-me com ele não somente na semelhança patológica, mas no recebimento de tal aviso. No dia que recebi a informação de que eu tinha um tumor, foi como ter saltado de um avião em pleno voo sem pára-quedas e o chão parecia nunca chegar. Foi no dia 8 de março de 2012, Dia Internacional da Mulher. Acho que foi mera parábola do destino descobrir neste dia uma doença totalmente masculina.

        No livro citado acima, Lance conta tudo sobre como descobriu a sua doença. Relação com os amigos e familiares, médicos e patrocinadores, tudo com muita veracidade e pitadas de humor e emoção. Minha mãe já o leu e agora minha esposa esta nas entrelinhas. Eu serei o próximo da lista e sugiro para quem tem interesse em não somente saber mais sobre o meu caso - que é de fato menos grave que o dele, se assim posso dizer – conhecer uma história de vida magnífica. De um homem que tinha somente uma saída, viver. E foi isso o que ele fez da melhor maneira possível.

        Não estou me comparando a Lance, até porque somos duas pessoas totalmente diferentes em tudo, mas a ligação que temos sobre a mesma doença é real. Até mesmo o nosso tratamento quimioterápico é idêntico no tempo e nas medicações. Pois como ele mesmo diz no livro, se você nunca visitou um setor de oncologia de um hospital faça isso. Lá você descobrirá que somos todos iguais. Que aquele senhor sentado ao seu lado conectado a vários tubos não é mais ou menos importante que você.

        Se eu posso passar algum aprendizado nesta minha primeira sessão de tratamento é de que você é e sempre será você mesmo. Não será um câncer que irá mudar suas atitudes ou pensamentos. O que muda em você é o jeito como olhar as coisas do dia. Você saberá dar prioridades a coisas nunca dadas antes e se desprenderá de outras que pareciam tão extraordinárias. Como Lance mesmo disse: “A dor é temporária, desistir dura para sempre”.    

terça-feira, 10 de julho de 2012

Crônicas de um Tumor (Alguns dias depois)


EXCELENTE
             
              Boa noite a todos. São 00h20min do dia 10 de julho de 2012. Estou cansado, olhos lacrimejantes, bocejos sucessivos e apreensivo para mais um dia de tratamento. Até ai tudo certo, apesar de não me acostumar com isso – e nem querer. Desde a última quinta-feira (05) não fiz mais nenhuma postagem por motivos de força maior (adoro dizer isso). Maaasss...! Estou de volta. Mais forte e mais bonito. É que cortei o cabelo hoje! Ele não caiu ainda.

                Tudo tem sido uma experiência fascinante. As idas e vindas ao setor de oncologia principalmente. Digo isso pelo simples motivo de ir e vir todo dia de um lugar onde você é você mesmo. Onde ali, você pode ser você, desde a hora que chega, até a hora que sai. Realmente sedutor essa coisa de sermos nós mesmos. Claro que não vou pedir para você ter essa experiência porque seria cruel demais de minha parte e também tenho certeza que não faria. Resumindo, nunca seremos os mesmo sempre. Sei que parece filosofia barata, mas é a pura verdade. Pense nisso quando conseguir ser você. Eu tentei e não consegui.

                Tenho feito uma metamorfose diária. Com um misto de Raul Seixas e uma fumada de Kafka. Às vezes acho que estou ambulante e no outro me imagino um inseto qualquer. Essas incertezas na minha vida são tudo culpa da medicação e principalmente da falta de motivação para tarefas simples do dia, como levantar e pegar um copo com água. Ok vou parar de viajar, pois a única coisa que quero neste momento e ir dormir sem a sensação de estar com um elefante dentro barriga.

                Neste dia 09 de julho de 2012 melhorei bastante no período da tarde. Senti-me mais disposto e até voltei a dirigir. Coisa que amo fazer. Resolvi algumas questões financeiras outras burocráticas, comi bastante e voltei para casa com a minha esposa e minha mãe sempre atentas aos meus passos. Dei risada da bagunça das minhas duas cadelas e do meu cão. Tudo isso sempre acompanhado da minha querida náusea. Companheira inseparável. Contudo, vou me deitar com uma grande dúvida. Se a minha vontade de vomitar é por conta da quimioterapia ou por conta das atitudes dos nossos governantes de todas as esferas desse imenso país de guerreiros e guerreiras. Seria ótimo se um tratamento quimioterápico pudesse curar a farsa, porque o diagnóstico já esta feito a mais de 500 anos.