segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Mergulhei de Cabeça




Mesmo surpresos com a notícia, continuamos a caminhada. Muito ainda faltava andar até nosso destino. Lama, pouca visibilidade e o desgaste faziam de nós ainda mais preocupados com a demora. Mas prosseguimos sem esboçar qualquer reação de parar. Apenas a garrafa de água saia do cinto vez ou outra para nos hidratar. A sede era tão grande quanto a expectativa da chegada. Não imaginavamos o que iriamos encontrar por lá.
Após um bom tempo andando em mata fechada, um belo descampado surge a nossa frente. Nossos olhos se espantaram com tanta imensidão. Um fim sem fim. Montanhas e vales cobriam nossa anciedade de beleza. O ponto final parecia próximo. Tinhamos de completar a missão. Apertamos o passo. Cada vez mais, até começarmos a correr. Mas logo voltamos as nossas passadas firmes e fortes. Assim teriamos mais disposição para enfrentar o que nos aguardava.

De repente um barulho imenso nos paralisa por alguns instantes. Qualquer movimento parecia ser como a culpa pela morte. O estrondo seguia do norte para o sul como uma avalanche de raiva. Não poderiamos nos entregar ali. O primeiro novo passo foi dado. Logo avistamos a Trilha do Retorno. Conhecida assim, porque antigos moradores da região sempre retornavam de suas expedições ao ouvirem o assustador barulho que surgia entre as árvores.

Entramos na trilha e seguimos corajosos rumo ao fim de nosso encargo. O estrondo aumentava e nossa coragem diminuía. Seguimos firmes apesar da angústia de não saber o que nos esperava. Alguns metros depois podiamos sentir o frescor da brisa que molhava as plantas a nossa volta. Mais alguns passos e por fim avistamos a dona de toda aquela publicidade. A Cachoeira do Aisó. Linda e formosa. Sua postura nos deixou embasbacados. Pasmos. Nossa missão estava prestes a ser cumprida. As pedras em volta do imenso tanque que se formava aos pés da soberana queda d´água era nosso único refúgio seguro naquele instante. Passar daquele ponto nos tornaria heróis.

Sem falarmos uma palavra sentamos cada um em seu ponto de melhor visualização da imensa queda. Todos pensando qual seria a melhor forma de completar a tão desejada missão. Sem pensar muito começo a subir as pedras pelo lado direito da cachoeira. Chego ao ponto que havia almejado. Percebo ainda mais a grandeza de Aiçó. Alguns pássaros me observam nos topos das árvores. Vou até a ponta da pedra de minha escolha. Vejo todos lá embaixo me olhando curiosos para saber o que eu iria fazer. Levanto meus braços. Junto minhas pernas e respito fundo. O salto era inevitável. Pulei.

Aqueles quatro segundos até o mergulho foram eternos. Senti o coração de cada um ali perto bater mais forte. Senti o mergulho como se estive entrando em outro universo. Mergulhei um pouco e subi de volta para a superfície. Todas as minhas dores da difícil caminhada tinham desaparecido. Estava anestesiado. Quando começo a entender onde estou, logo ouço outro mergulho. Mais um e mais outro. Todos haviam pulado para completar suas missões.
Ao sair da água, ainda sem falarmos uma palavra se quer, percebemos o quanto estava frio e nossas roupas enxarcadas. O frio era imenso. Tremiamos demais. Bocas, pernas, braços, tudo. Realmente, a notícia de que as águas eram extramente geladas era verdade e que não levar algo para se secar foi uma insanidade. As dores rapidamente voltaram a nos aborrecer. Tinhamos apenas uma opção para que toda essa aflição parasse. Saltar novamente nas águas da formosa Aisó.