segunda-feira, 29 de março de 2010

Não poderia deixar de escrever pelo menos um pequeno parágrafo sobre Armando Nogueira por dois simples motivos: Crônica e Futebol. Duas paixões em comum, pois foi dos inúmeros textos por ele escrito que me inspiro tão sobriamente. Às vezes nem tanto. Só posso dizer: Adeus!


Pelada de Subúrbio

Armando Nogueira

Nova Iguaçu, quatro horas da tarde, sábado de sol. Dois times suam a alma numa pelada barulhenta; o campo em que correm os dois times abre-se como um clarão de barro vermelho cercado por uma ponte velha, um matagal e uma chácara silenciosa, de muros altos.
A bola, das brancas, é nova e rola como um presente a encher o grande vazio de vidas tão humildes que, formalmente divididas, na verdade, juntam-se para conquistar a liberdade na abstração de uma vitória.
Um chute errado manda a bola, pelos ares, lá nos limites da chácara, de onde é devolvida, sem demora, por um arremesso misterioso. Alguns minutos mais tarde, outra vez a bola foi cair nos terrenos da chácara, de onde voltou lançada com as duas mãos por um velhinho com jeito de caseiro.
Na terceira, a bola ficou por lá; ou melhor, veio mas, cinco minutos depois, embaixo do braço de um homem gordo, cabeludo, vestido numa calça de pijama e nu da cintura para cima. Era o dono da chácara.
A rapaziada, meio assustada, ficou na defensiva, olhando: ele entrou, foi andando para o centro do campo, pôs a bola no chão e, quando os dois times ameaçavam agradecer, com palmas e risos, o gesto do vizinho generoso, o homem tirou da cintura um revólver e disparou seis tiros na bola.
No campo, invadido pela sombra da morte, só ficou a bola, murcha.

domingo, 28 de março de 2010

Dai-me Paciência!


Em muitos momentos de nossa vida somos testados a encarar situações de extremo estresse, raiva, vontade de mandar o próximo à merda. Diante disso, respiramos fundo, nos acalmamos e saímos como verdadeiros reis e rainhas da tal, situação contrária. Talvez isso esteja ligado à passividade. Aquela que exercemos diariamente na fila do banco, no ônibus lotado, no mau atendimento público e privado e em tantas outras ocasiões de desgaste.


Paciência para uma mulher pode ser a resposta para aguentar os nove meses de gestação. Para um homem a quarentena após o nascimento do seu fruto. Para um louco, paciência pode ser apenas a compreensão estranha. Para mim paciência é aturar a falta de respeito. Principalmente a minha e a das pessoas ao meu redor.


Como sempre digo, não sou exemplo para ninguém, mas tenho certeza da minha resignação. Uma pessoa com doença grave, sabendo que o fim pode chegar, só pode tratar de seu mal e ter paciência. Corremos tanto atrás de algo no dia a dia, que não sabemos mais curtir a vida na companhia das pessoas, sejam elas minimalistas ou não. Pouco importa. Queremos apenas nos relacionar com pessoas de interesse profissional. Aquelas que nos acrescentem mais valias. Foda-se! Desculpe, perdi a paciência.


A Bíblia diz em Hebreus 6:12 “Para que não vos tornei indolentes, mas sejais imitadores dos que pela fé e paciência herdam as promessas.” Fé! Muitas vezes é a fé que nos fortalece. Em qualquer domínio religioso. A escolha é nossa. “Aqueles que são pacientes herdarão o que lhes foi prometido.” Eu prometo ser paciente.


Para alguns vários funcionários públicos, paciência é apenas um jogo no computador de pouca serventia. Pois tente pedir alguma informação e será hostilizado pela pátria amada. Que por acaso tem em sua primeira estrofe do Hino Nacional a seguinte frase: “OUVIRAM DO IPIRANGA AS MARGENS PLÁCIDAS”. Plácidas: Calmas, tranguilas. Foda-se! Desculpe, perdi a paciência de novo.


Dentre as sete virtudes (Castidade, Generosidade, Temperança, Diligência, Caridade e Humildade), a mais difícil de desenvolver é a paciência. Quem diga aqueles com processos estagnados em todas as esferas judiciais do país onde a justiça tarda, mas não falha. Parece piada. Pois como já dizia Lenine: “Enquanto todo mundo; Espera a cura do mal; E a loucura finge; Que isso tudo é normal; Eu finjo ter paciência...”