sexta-feira, 21 de novembro de 2008

MUDAR OU NÃO MUDAR, EIS A QUESTÃO!


Observe os pássaros em frente a sua casa. Para onde eles vão e porque eles voltam? Mudanças são sempre bem vindas em nossas vidas. Sejam elas boas ou ruins, todas mudam algo ou alguém. Mudar para muitos significa emagrecer. Para outros apenas pensar. Mudar causa arrepio em alguns e contentamento em outros. Todos mudam e todos sabem para onde querem ir, só não sabem se irão chegar. Os pássaros continuam a mudar. Migram de uma região a outra no aviso singelo da natureza e nem ao menos parecem perguntar para onde estão se movendo. Compreender a exatidão da palavra mudar parece-me insensatez, vulgar de mais e interesse de menos.


Mudar pode ser simplesmente transferir-se de um lugar para outro, trocar de vida. Aquela vida da qual você parece não querer mais viver. Daquelas pessoas das quais você não quer mais conviver. Daquela janela da qual você não quer mais olhar. Daquela rua que você não quer mais passar. Apenas isso é suficiente para mudar? Quem sabe mudar faz apenas você sentir-se útil, onipotente. “Eu mudei”. Mudou nada. Você será sempre a mesma pessoa, o que mudará, será apenas a convivência, a linguagem. A insatisfação diante da mudança continua. O tempo irá passar e você desejará outra mudança. “Não aquento mais...!” Mas quem aquenta? Apenas suportamos pacientemente o final da rua chegar, o dia se acabar para pedirmos novamente que ele se acabe. A carne é fraca e o pensamento é vulnerável.


As memórias do passado só valem naquela mesa de bar para surpreender a pessoa desejada. Contando histórias alucinantes vividas – pensa você – só por você. No livro “A Carne de René”, de Virgilio Piñera, René pede a seu pai que não lhe mate e seu pai responde: “Não serei eu quem afundará o punhal no seu peito, meu filho, mas pense que no mundo há milhões de mãos e milhões de punhais”. Portanto, é ingênuo pensar que tudo mudará como em um passe de mágica, assim vivido pela pequena Alice. Mudar é apenas transferir seus olhos de um lugar comum para outro lugar comum. À distância em todo caso é insignificante, ela é medida pela sua euforia. Então mude, seja de lugar, de opinião, de profissão, de mulher, de homem, de e-mail, de música, de cabelo, de tatuagem, de endereço, de nome, de roupa, de vocabulário, de candidato, de prato... Mude e perceberá que serás sempre o mesmo.


quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Uma breve história dos presidentes do Brasil que você já viu


Quando criança, aprendi a não gostar de jiló, muito menos do José Sarney. Cresci em meio a uma mudança desorganizada criada por falsos comunistas, vestidos de vermelho, gritando palavras de ordem com o escudo do marxismo na frente como proteção divina. Diante da derrubada da ditadura meus pais me conceberam. Fui muito feliz. Meu pai um trabalhador intelectual, desenhista de máquinas até hoje usadas na construção civil. Minha mãe, uma dona de casa dedicada e minha irmã, é a melhor. Os anos foram se passando, viagens eram rotineiras. Nosso padrão de vida permitia certas extravagâncias. De repente me entendo por gente e vejo na televisão um cara bonito, cheio de energia candidato a presidência do Brasil. Outro dia, vejo alguns amigos mais velhos saírem com a cara pintada para derrubar esse mesmo cara bonito, cheio de energia. Minha cabeça vira um redemoinho. Tudo bem, vou jogar bola.


Minha idade aumenta e meu discernimento também. Começo a perceber que as coisas não andam bem. Brigas constantes em casa. Diluição familiar e tudo se rompe como num passe de mágica. Cadê meus amigos do colégio particular? Cadê o carro novo do meu pai? Não sei. Ouvi dizer que o cara bonito roubou tudo. Merda! Ligo a TV e vejo um topete tapando a minha visão, não me assustei, pois era o mais novo presidente do Brasil. Calmo como um monge budista e tão incompetente quanto a minha cachorrinha que não aprendia a fazer suas necessidades no lugar correto. Infelizmente tivemos de dar ela a outra família. Pena não poder fazer isso com aquele topete. Minhas antenas ficaram mais ligadas, mesmo assim ainda preferia jogar bola.


Ligo a TV de novo e vejo um cara de fala estranha dizendo ser o mentor do Real. Tudo bem, cada um com o seu feito. Parei de jogar bola e comecei a trabalhar como office-boy. O estudo teve de ser transferido para o período noturno. Mudei de escola e percebi que o real não havia sido inventado por aquele cara de fala estranha. O real era aquela escola, cheia de delinqüentes usando drogas enquanto o professor tentava de todas as maneiras chamar suas atenções. Real era ver meninas pulando a janela do banheiro para não tomar um tiro na bunda. Real era minha mãe preocupada em casa esperando a minha chegada sem nenhum arranhão. Não foi fácil, mas sobrevivi.


Minha idade avança e a curtição também. Baladas praticamente de segunda a segunda, viagens emocionantes, mulheres, brigas, risadas e mais risadas. O ciclo social fica cada vez mais verdejante. Sinto-me como se estivesse no seriado Miami Vice. Saudades. Percebo que o cara de fala estranha se reelege, então me pergunto. Será o Real tão importante assim? Vou criar o "Irreal"? Uma moeda tão forte, que cada centavo dela daria para comprar um carro e ainda mandar o vendedor passar férias em Cancun com uma das namoradas do 007. Mas voltando ao Real, quatro anos se passaram e nada mudou. Nada mesmo. O Brasil estagnou como um barco encalhado entre o pacífico e o atlântico.Quer saber?


Vou ligar a TV. Passo de canal e nada vejo, passo outro e nada, passo mais um e nada também. De repente vejo aquele pirata das histórias em quadrinhos. Barbudo de nove dedos…Mas espera um pouco. A bandeira do pirata mudou. Cadê aquela caveira no fundo preto? Só vejo uma estrela no fundo vermelho. Nossa, como as crianças de hoje estão caretas! Só espero que elas entendam o porque da privatização da BR101, depois de tanto dinheiro gasto na sua duplicação. Se arrependimento matasse eu seria um dos poucos a sobreviver.