quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Ainda Não Entendi



Uma sensação de desconforto apertava meu peito. A visão parecia embaçar após cada passo. Podia sentir pessoas me tocando. Cinco ou seis mãos, não sei exatamente. Meu corpo esfriava e minhas pernas tremiam como uma cigarra a ponto de explodir. Barulhos de carros e gritos ecoavam dentro da minha cabeça. O aperto era geral. Minha carcaça não correspondia minhas vontades. Queria sair daquele lugar correndo.


Senti algo me cortar. O sangue saiu quente como lava escorrendo sobre as minhas costas. Os gritos aumentavam e minha paciência diminuía. “Quero sair daqui”, pensava a todo o tempo. Era só questão de ocasião queria eu acreditar. O frio aumentava junto com meus passos apresados. Começo a correr. Tropeço em algo e o gosto do cimento entrando em minha boca é certeiro. Desabo como um camicase japonês sobre terreno árduo. Pessoas ao meu redor sussurram em tom de preocupação.


Um velho, acabado para ser mais exato. Sua pele se parecia com a maldade transformada em matéria. A outra, uma mulher jovem de pele branca e cabelos pretos. Comum para os meus padrões. O rapaz negro de camisa branca parecia o mais sensato naquele instante. Também me observava. Tentei sorrir. Tentei chorar. Estava sem controle dos meus anseios. Será que posso gritar? Perguntei-me. Tentei e nada. Droga o que faço?


Minha paciência já havia se tornado pó. Meu coração batia no compasso de uma escola de samba em plena Marquês de Sapucaí avisando a todo instante. “Acalme-se ou paramos por aqui”. Então resolvo dormir um pouco, descansar. Adivinha? Não consigo. Estou tão ligado que nada me satisfaz. Devagar vou apoiando minhas mãos onde posso e me levanto lentamente.


A parede crespa de cimento mal acabado parecia não terminar. Enfim consigo me levantar. Minhas pernas tremem enquanto meus olhos se abrem. Olho para trás e me suspreendo com o que vejo. Dezenas de homens vestidos de preto e cobertos dos pés a cabeça apontam suas armas na minha direção. Não reajo. Volto minha atenção para a parede e procuro entender onde estou e porque.


Apenas uma imagem me aparece em mente. Eva Green sorrindo e seu corpo de pele branca e seios tão belos que me causaram exitação em meio a tanto desespero. Caralho! O que faço? Não consigo correr. Muito menos pular esse muro. Gritos pedem para que eu vire. Viro devagar. O pedido agora é para eu ajoelhar. Fico puto por um instante, pois demorei tanto para levantar. Ouço o gatilho das armas e ajelho imediatamente.


O som de tiros ecoa naquele espaço público o qual não fazia ideia de onde era. A sensação de frescor percorre meu corpo inundado de medo. Levanto rapidamente e ando em direção aos homens e suas armas. Mais tiros. Mais frescor. Mais medo. Desabo. Não mais como um camicase, mas sim, como uma enorme árvore centenária em seus últimos instantes de vida. Neste momento o meu desejo é apenas um verbo futuro. Entender.