quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

DOENÇA CRÔNICA


Tenho lido muitas crônicas ultimamente e percebi algumas similaridades em textos de autores tão distintos. Distintos no sentido da regionalidade, mas iguais nas coesões textuais. Claro! Você vai dizer. “São crônicas seu idiota”. Eu sei deste pormenor desde o momento em que começo até o término de cada texto. Só não entendo porque a maioria trata das mazelas de suas cidades como um romance de verão.
Crônica não é apenas frases irônicas criadas pelo olhar singular do autor. Crônica é alma. É perversão transformada em palavras por mãos sádicas. Crônica é cabeça de cobra com corpo de tigre. É rival da malandragem e parceira da ingenuidade. Poucos sabem fazer crônicas, muitos pensam fazer crônicas e a maioria apenas narra um passeio no parque do qual observou aquela criança albina, de pele transparente e boné estranho correndo em direção a sua mãe, enquanto outras crianças zoam com a sua cor pálida. Qualquer ser alfabetizado sabe descrever com muito humor, como é cagar e não ter papel higiênico no banheiro para se limpar.
Agora você vai dizer: “Quem é você pra dizer isso e baseado em que?”. Muito prazer, Rafael Costa, casado, tio e favorável ao não-comodismo. Digo tudo isso com base na leitura de crônicas inférteis. Talvez esta seja uma, pois escrevendo dessa maneira arrogante o símbolo da indiferença apareça a sua frente neste momento, seguido da frase. “Que otário”. Diante das palavras acima não se enquadram Machado de Assis, Rubem Braga, Elsie Lessa, Fernando Sabino, Arnaldo Jabor, entre outros mestres que fazem da crônica uma doença crônica. Não quero causar inimizades, muito menos discutir o certo do errado ou qual o cor do coelho da Mônica. Quero apenas o reconhecimento antes de saberem que vou viver por muito tempo.