quinta-feira, 5 de julho de 2012

Crônicas de um Tumor (D4)


Boa pra frente que a estrada é longa!

 Olá amigos e familiares, infelizmente hoje terei de ser breve nas minhas palavras. Neste quarto dia de tratamento não passei bem. Muito enjoo e sensação de desconforto para fazer as tarefas básicas do dia, como apenas ficar deitado. Agora estou melhor, pois passei à tarde de repouso. Mais parecia que uma bigorna estava sobre a minha cabeça. Apesar desses sintomas consegui comer um pouco de sopa da Rainha pra me manter e comer algumas frutas.

No hospital tudo correu tranqüilo. Nada de novo aconteceu. Tirando alguns cancelamentos de quimioterapia por falta de medicamento, para pacientes que ainda não iniciaram o tratamento. Uma pena, pois uma equipe tão dedicada de enfermeiros mereceria todo o material do mundo para atender a esses casos tão especiais de combate ao câncer. 

Tenho certeza que na mesa do, ou dos principais responsáveis, pela compra desses medicamentos não falta comida. Muito menos medicamento para um de seus familiares que por um acaso estejam passando por isso como eu e tantos outros. Este descaso com a compra de medicamentos tão importantes só demonstra a fragilidade ou falta de importância para com os inúmeros pacientes num momento de pura imersão de cura. Só isso que queremos neste momento, nos entregar para curar.

Desculpem-me o desabafo. Antes de tudo, neste momento sou um cidadão que precisa de tratamento e atenção por parte dos responsáveis deste hospital. E assim por diante muitas outras pessoas passarão por ali e também irão querer o melhor tratamento possível. Com seus medicamentos sempre esperando para sua cura. Talvez o motivo desse atraso seja por conta de um câncer quase incurável neste país, o câncer da burocracia.

Beijos e abraços a todos!


quarta-feira, 4 de julho de 2012

Crônicas de um Tumor (D3)


Fred de branco, Safira ao lado e Jade folgada apoiada na gorda!

Como disse ontem, menos um dia de tratamento se foi. Hoje, no terceiro dia de aplicação quimioterápica passei muito bem obrigado. Tenho me alimentado de forma interessante nesses dias. Muitas frutas, muita água e principalmente muita calma para não deixar a peteca cair. Isso mesmo, pois apesar de aparente boa forma física a mente às vezes dá alguns erros de leitura. Sabe como é! Temos que recarregar as baterias também.

Ontem eu estava tão bem em comparação ao primeiro dia que fui recarregar minhas energias em Balneário Piçarras e matar a saudade da cachorrada. Leia-se: Safira “o mundo pode acabar”, Jade “ranzinza” e Frederico “o fura-cão”. Esses são os três donos da casa. Minhas alegrias e desesperos a cada arruaça que eles aprontam no quintal. Mas fazer o que

Conheci mais alguns causos na oncologia hoje. Uma menina de 28 anos com um tumor retirado de trás da tireóide. Uma senhora com leucemia. Um senhor com um tumor no esôfago e que já havia passado por 35 sessões de radioterapia e estava no leito ao meu lado aplicando quimioterapia falando como um garoto das suas histórias de vida. Um grande exemplo. Também conheci um senhor com o mesmo problema que eu, mas o dele era no testículo direito e já havia feito suas sessões de quimio. Estava por lá hoje apenas para entregar exames.

O cabelo continua firme e forte, claro que um pouco mais fino, mas ainda não caiu. Sinto mais sono do que antes do tratamento e tenho dormido feito uma pedra. A disposição também não é a mesma, mas a perseverança em continuar na ativa durante este tratamento é maior que tudo. Tenho procurado seguir minha vida como sempre foi, claro que com um pouco mais de cautela. A única coisa que tem me incomodado são as crises de soluço. Ainda não descobri porque, mas acredito que seja de tomar muita água. Logo passa.

Obrigado mais uma vez pela atenção de todos!  

terça-feira, 3 de julho de 2012

Crônicas de Tumor (D2)


SOPA DA RAINHA
    
 Menos uma sessão de quimioterapia se foi. Hoje estou bem, mais disposto e não vomitei como ontem. Consegui trabalhar a tarde e me ocupar com a mente, deixando um pouco o restante do corpo de lado e focando no exercício intelectual. Contudo, sempre se lembrando da alimentação e tomando bastante água. Essencial para minha recuperação, pois um dos medicamentos pode me causar insuficiência renal. A garrafinha de água tem se tornado minha companheira.

     Hoje recebi as mesmas doses de ontem com um medicamento a mais que durou cerca de meia hora. Durante toda a manhã observei pacientes e acompanhantes entrando e saindo de seus tratamentos. Uns já carecas e pálidos outros fortes e corados como se nada estivesse acontecendo, outros com os olhos esbugalhados ao ver tantas pessoas e mangueiras conectadas a elas, outras sozinhas sem nenhum acompanhante. O que para mim e minha esposa é um descaso da família, pois percebemos que sim, eles têm familiares, ainda mais por se tratarem de pessoas idosas. 

     No caso de hoje uma senhora que começou sua quimioterapia foi perguntada pela enfermeira quem a estava acompanhando e ela respondeu que um vizinho a tinha levado ao hospital. Indignada a enfermeira exclamou: “Vizinho, cada a sua família”. A senhora apenas silenciou.  Uma pena para a importância de tal tratamento, pois quem ajudou esta senhora a ir ao banheiro foi a minha esposa.

     Contudo, a vida continua, amanhã mais um dia pela frente e mais idas e vindas ao banheiro. Culpa de muito soro e água. Assim vou em contagem regressiva para o fim do tratamento. Faltam só treze. O cabelo continua firme e forte e acima de tudo a vontade de seguir de cabeça erguida. Guerreiro de fé. 

     Quero destacar o trabalho do pessoal do setor de oncologia do Hospital São José. Fiquei empolgado com o atendimento. Ao chegar hoje minha cama já estava marcada com meu nome e a medicação não precisei esperar mais do que cinco minutos para aplicar. Todas as enfermeiras sempre solicitas e com um sorriso no rosto, mesmo com tantos pacientes a serem atendidos. Tenho que destacar ainda o meu melhor remédio nestes dois dias de quimio. Minha esposa, mulher guerreira e de um caráter incomparável. Sempre ao meu lado e disposta a tudo pela minha melhora. Te amo minha rainha!

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Crônicas de um Tumor (D1)

   
    Nada como uma dose de quimioterapia para nos dar enjoo. Primeiramente quero agradecer a todos e a todas pelo enorme carinho e palavras de força nas ligações, no Facebook, por e-mail e pessoalmente. Vocês são demais, pessoas que amo a passo a amar ainda mais e pessoas que estou aprendendo a amar. A vida tem me ensinado muitas coisas nestes últimos cinco meses, mas a principal delas foi descobrir a verdadeira essência do ser humano, o carinho. Pode parecer pouco, no entanto é o suficiente para me manter de cabeça erguida.

    Vou explicar o meu caso a vocês. Estava trabalhando em Brusque – SC na construção de um projeto Minha Casa Minha Vida para uma empresa de engenharia civil de Blumenau. Estava bem instalado na cidade do marreco recheado e de grandes amigos. Numa quinta-feira de março, minha esposa que estava morando em Joinville saiu de férias e foi para Brusque ficar comigo. Neste dia, conversa vai conversa vem, decidimos pesquisar na internet o porquê do inchaço no meu testículo esquerdo. Cheque-mate, o Dr. Google matou a charada: Tumor.

     Resolvemos então correr para o hospital em Brusque mesmo, para ver o que estava acontecendo e o que não queríamos se confirmou. Na terça-feira seguinte já estava na mesa de cirurgia para a retirada completa do testículo esquerdo onde se encontrava o tumor. A partir daí me recuperei da cirurgia e fui para casa. Procuramos um oncologista que nos deu todo suporte e explicações necessárias sobre o caso. Com as seguidas baixas nos índices tumorais foi diagnosticado que a principio não necessitaria de quimioterapia, mas de um acompanhamento mensal de exames de sangue e trimestral de tomografia para o controle dos índices deveria ser feito. Contudo, no último exame que realizei em Brasília onde estava a trabalho e ficaria por aproximadamente quatro meses, aconteceu as alterações indesejadas. Então voltei a Joinville para fazer este tratamento quimioterápico.

     Hoje foi a primeira sessão. Cheguei por volta das sete e meia da manhã no setor de oncologia do Hospital São José e logo fui encaminhado aos procedimentos. Primeiro uma dose de soro para hidratar, alguns minutos depois chegou à primeira dose de medicamentos. Duas horas aplicando. Tudo certo. Depois mais uma dose de medicamento, uma hora aplicando. Tudo certo. Mais um pouco de soro e fui liberado por volta do meio dia. Sai e fui para casa da minha sogra almoçar. Tudo certo também. Mas como eu disse anteriormente, nada como uma boa dose de quimioterapia para dar enjoo. O cartão de boa vindas foi dado, vomitei por volta da quatro horas da tarde. Amanhã tem mais. Grande abraço a todos!