terça-feira, 26 de outubro de 2010

O Saco está Cheio


O saco está cheio de gente se debatendo pra sair. Não importa em quem vão pisar. Se na mãe, no pai ou no tiozinho da barraquinha de cachorro quente. Não importa mesmo. Só importa o agora, o hoje. O amanhã eu me preocupo amanhã. O que importa é hoje, somente hoje. Foda-se o passado, já passou. Quero pagar minhas contas desse mês e foda-se de novo. Dia 31? Que se foda também.


O pior é que a boca do saco está lacrada com fita adesiva de alta resistência e para piorar o saco está amarrado a uma altura superior a sua arrogância. Alto né? Pois então, que tal abaixar a crista e pensar um pouco no tiozinho da barraquinha de cachorro quente. Não precisa levar ele pra casa, muito menos dar um beijo na boca dele. Apenas lembre-se dele como uma pessoa que por vezes lhe serviu o seu tão desejado cachorro quente com duas salsichas, milho, ervilha, vinagrete, purê de batata, batata palha e um suco de brinde.

É fácil, você consegue. Sabe aquela menina que te ligou enquanto você estava ocupado fazendo porra nenhuma, para te oferecer um super plano de descontos e vantagens na sua linha telefônica. Ela também poderia ser lembrada com contentamento. Está bem, foda-se ela o tiozinho da barraquinha de cachorro quente e o resto do mundo. Quero apenas ser eu. Quero ser alguém. Quero ser reconhecido como “o cara”. O cara que te usou para se promover.

Vamos lá, me odeie. Difame-me. Fale que sou um filho da puta, corrupto, safado, insolente. Mas lembre-se, estou acima do bem o do mal. Eu sou “o cara”. Lembra? Engraçado, disso você lembra. Que bom. Porque eu sou foda e agora vou colocar no meu lugar a mulher foda. Isso mesmo, eu sou “o cara” e ela é a... Deixe-me pensar. Calma que faz tempo que não faço isso. Na verdade poucas vezes fiz. Mas voltando, ela será a “a face”. Ficou legal.

Serei sempre lembrado como “o cara”. O cara que ergueu a indústria petrolífera, o cara que pagou a divida externa (me desculpe por essa piada, sei que foi de mau gosto. Ass: Rafael Costa), o cara que levou comida para a mesa dos miseráveis, o cara que transformou o assalariado em classe média (me desculpe novamente, essa foi mais infame ainda), o cara que não sabia de nada, o cara de santo.

OBS: Não vou conseguir terminar essa crônica. Acabei de lembrar uma coisa muito importante. Não vai adiantar nada. “A face” irá se eleger e “o cara” será eternamente lembrado pelo seu carisma. Então, foda-se. Continue a fazer o que quiser de sua vida, sem se importar com a saúde esquecida, a segurança bizarra e a educação esculachada. Seja feliz, afinal agora você é da classe média. Então pode pagar um convênio médico, segurança e escola particular. Parabéns, você conseguiu.