quinta-feira, 25 de março de 2010


Recentemente em conversas com amigos e via e-mail recebi sugestões sobre o que eu poderia escrever. Tinha de tudo. Humor, política, sexo, mulher – repare que as duas últimas são sinônimos – homem, futebol, dinheiro – repare que os três últimos também são sinônimos. Mas como fui e continuo um jovem “aborrecente” (assim dizia Mamãe), não aceitei nenhuma das implicações. Vou escrever sobre trânsito, veículos e seus condutores.

Em 2008 foi aprovada pelo Congresso a lei seca. Lei esta, criada com a intenção de punir severamente, condutores de veículos automotores que tenham ingerido quantidade excessiva de álcool. Só que...!



“Levantamento realizado na Justiça estadual do país inteiro mostra que 80% dos motoristas que se recusaram a se submeter ao teste do bafômetro ou a tirar sangue para a verificação do grau etílico acabaram absolvidos por falta de provas. O levantamento foi preparado pelo advogado Aldo de Campos Costa, doutorando pela Universidade de Barcelona --para onde os dados foram enviados na semana passada. Ele foi realizado na segunda instância de todos os tribunais de Justiça do país entre os meses de junho de 2008 e maio de 2009. Foram encontradas 159 decisões em tribunais de todas as regiões do país --em 97% houve entendimento unânime.A pesquisa se refere à infração penal, e não a punições administrativas que são aplicadas pela autoridade de trânsito.”
(Folha On-Line, 07/09/2009)


A lei seca prevê pena de três meses a seis anos de detenção, além de multa de R$ 955,00 e suspensão do direito de dirigir por um ano para quem for pego encachaçado. Só que...! (Novamente). A lei muito bem escrita por nossos congressistas e judiciários abre caminho para a impunidade. Acredito que seja uma questão de costume dos nossos representantes e também da nossa conivência ao volante. Não podemos tirar o nosso da reta. Muitas vezes somos tão devassos quanto os donos do circo Capital.

Com a importância que se formou em torno de se ter um carro para ir trabalha e tantas outras coisas mais, foi deixado de lado à gravidade que se deve ter ao dirigir. Quando em 1885 o alemão Karl Benz resolveu produzir o primeiro veículo motorizado para fins comerciais, não imaginou qual seria o resultado. Algum tempo depois os carros começariam a ser produzidos em série graças ao visionário Henry Ford.

O problema foi que esqueceram de ensinar como usar o equipamento corretamente. O tempo passou e ainda não aprendemos como nos comportar no trânsito. Alguns entram em seus automóveis e pensam estar numa cápsula ou armadura revestida de coragem. Outros parecem estar sozinhos no mundo. Mais um tanto esquece que o carro foi feito para andar.

Não sou exemplo pra ninguém, mas quando estou na boleia faço o possível para chegar ao meu destino com sucesso e preservar a vida de quem me acompanha. Nossos caminhoneiros são o retrato das más estatísticas, que não valem a pena citar aqui. Juntamente com estradas ruins, péssima sinalização e pedágios abusivos. Ingredientes perfeitos para alimentar ainda mais a ignorância dos motoristas brasileiros.

As vendas de carros batem recordes ano a ano. E a qualidade das auto escolas? Melhor perguntar ao sistema falido de ciretrans, detrans e afins, espalhados por todo o país. Como tudo nesta imensa nação paciente, nada se cumpre. Nem por direito, nem por obrigação. Somente para arrecadar valores descomedidos e usá-los de maneira no mínimo duvidosas.

Está semana foi anunciada pela PRF a publicação no Diário Oficial da União de milhares de infrações cometidas nos últimos cinco anos e não quitadas. Será mais uma maneira de arrecadar dinheiro ou a correta “cobrança” pelo pagamento de quem infringiu as leis de trânsito? Eu penso que todos devem pagar por suas autuações, pois devem cumprir com as penas previstas em lei e utilizarem deste artifício para cobrar mais responsabilidade e atenção dos donos do circo Capital.