quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Crônicas de um Tumor (D51)


 
                Boas notícias. Cinquenta e um dias de tratamento e sinto-me muito bem. Claro que a minha querida amiga náusea vez ou outra aparece para me visitar. Daqui a pouco, tenho consulta com o oncologista Dr. Luiz Fernando, para definir a última sessão do tratamento e já me organizar para minha volta a Brasília. Na próxima semana farei as cinco aplicações de quatro horas cada. Estou ansioso para começar e ainda mais ansioso para terminar esta última aplicação.

                Tenho recebido recomendações para que eu não fique pensando em voltar logo para Brasília e pensar no meu tratamento. Mas o que posso fazer se estou com a cabeça cheia de planos e vontades de aprender e ensinar cada vez mais. Nestes 51 dias de tratamento tenho me poupado de muita coisa. Principalmente de aborrecimentos e preocupações desnecessárias. Minha saúde agradeceu. Mas agora que estou nesta reta final, nada mais justo que eu comece a desenhar minha vida novamente. As páginas que deixei em branco neste período foram preenchidas pelo carinho e palavras de força vindas de todos os lados. Isso eu jamais conseguirei agradecer a cada um de vocês.

                Neste período descobri que os amigos existem e estão mais próximos do que se imagina. Este papo egoísta de que uns são colegas e outros poucos são amigos é conversa de gente negativa. Somos todos amigos sim, apenas não podemos dar sempre a atenção devida que cada um merece, pois temos nossas vidas e principalmente nossas obrigações. Mas sabemos quem é quem e principalmente com quem podemos contar sempre que necessário.

                A dica para uma vida mais interessante de hoje será em homenagem ao centenário de Nelson Rodrigues, o qual considero um fanfarrão da literatura, um desbocado com uma máquina de escrever nas mãos, um gênio mal educado. Nelson escreveu: “Existem situações em que até os idiotas perdem a modéstia”. Neste caso só tenho a pensar que ele sempre foi um idiota, mas como ele mesmo disse: “Toda coerência é, no mínimo, suspeita”.