sexta-feira, 27 de julho de 2012

Crônicas de um Tumor (D25)

CONTEÚDO


                Antes de qualquer coisa, preciso fazer uma retratação. Na última postagem escrevi que faria uma pequena aplicação de aproximadamente uma hora na terça-feira (24). Contudo, não fiz. Minha imunidade continua abaixo do esperado para fazer esta medicação. Mais uma semana de espera, fazer o que se o tempo não passa. Nada que atente para maiores apreensões. Mas todo cuidado é pouco. Tenho ficado em casa para evitar o frio e a chuva que está aqui no norte do estado de Santa Catarina.

                Como sempre muita coisa aconteceu, principalmente nesses dois últimos dias. Até a Angela Merkel foi elogiada. “Beleza econômica da Ibope e resolve a crise financeira na Europa”. Boa manchete. E a mulher do romântico Cachoeira? Alguém viu? Claro, eles vão se casar. O que dizer das Olimpíadas. Sempre a expectativa de um excelente espetáculo. Ainda mais em Londres, chuvosa e marrom deixa os arcos ainda mais destacados. Seria interessante estar por lá. Tem as Eleições 2012 acontecendo, acompanhe a do seu município.  

                  Só fiquei triste com o fechamento do Playcenter em São Paulo. Passei bons momentos da minha infância e juventude gritando naqueles brinquedos e enfrentando filas de horas comendo fandangos por - em média – um minuto de adrenalina. Barca Viking (isto mesmo, Barca), Noites do Terror, Casa Maluca, Teleférico, Wave Swinger, Skycoaster, Splash, Polvo, Magic Motion e tantos outros. Lembro-me de um brinquedo que era com dois em cada cabine e ele girava tão rápido que não conseguíamos mexer as pernas, os braços e o pescoço. Era diversão legítima.

                Diante dessas lembranças me obrigo a dizer que não devemos levar a vida tão a sério. Tudo isso sem perder a responsabilidade e o profissionalismo. Prioridade tem se tornado palavra chave no meu cotidiano. Faço o que tem de ser feito para que aquela prioridade se resolva da melhor maneira possível. Sempre respeitando os interesses de cada um. Por isso minha dica para uma vida mais interessante de hoje é tão simples quanto o trânsito paulistano. “Cada macaco no seu galho, pois dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço”.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Crônicas de um Tumor (D21)


O Brasil não pode continuar a ser o país da impunidade. Acabei de ouvir isso do Boris, boa noite! Acho que a sinusite atacou e a coriza já está incomodando. Logo passa pensa eu. A imunidade já está melhor e pronta para mais uma aplicação nesta terça-feira. Duas horas de meditação e observação. Ali sentado da tempo de fazer muita coisa. Eu costumo dormir. Brincadeira vou ao sanitário tantas vezes na quimioterapia, que até o fim do tratamento arrisco saber quantos azulejos tem no banheiro.
 Hoje decidi publicar um texto do jornalista e escritor Ivan Lessa (1935–2012) para homenageá-lo. Esta foi à última crônica escrita pelo autor. Um prazer.


  “Orlando Porto. Taí um nome como outro qualquer. Podia ser corretor de imóveis, deputado, ministro, farmacêutico. Mas não é. Trata-se de um anagrama de um escritor francês - e ator e ilustrador bom e autor e figurinha difícil francesa e aquilo que se poderia chamar de "frasista". Feio como um demônio, no meio da década de 50 cansei de dar com ele dando comigo lá pelo Boulevard St. Germain, cheretando o Flore, o Lipp, fazia uma cara que quem ia dizer algo importante e logo sumia na companhia do Jean-Pierre Léaud, aquele maluquinho dos filmes autobiográficos do Truffaut.
Dupla estranha. Os desenhos do -esse seu nome, artístico ou de batismo, Roland Topor- eram bacaninhas. Mas sempre foi Orlando Porto para mim. Fez cinema também. O Inquilino do Polanski, o Reinfeld de Nosferatu, do Werner Herzog. Até que bateu o que ocultava seus pés: umas botas estranhas como ele.
De vez em quando, numa revista esotérica, dou com ele. Ei-lo numa em inglês com "100 boas frases para eu matar agorinha mesmo". Se chegou ao fim, e chegou, foi pelo cachê. Meros galicismos literários.
E aí trago à cena, mais uma vez, porque cismei, mestre Millôr Fernandes. Esse era profissional. Nada a ver com "frasista". Trabalhava com a enxada dura da língua. Nunca para dar a cara no Flore, principalmente com Topor e Léaud.
Reli umas 100 frases do Orlando, ou Topor, e não resisti à tentação de, em algumas delas dar-lhes uma ginga por cima e outra por baixo, à maneira do frescobol querido do mestre, só para exercitar os músculos muito fora de forma.

 Cem razões: Faço por bem menos, mas mais Copacabana e Leblon. Algumas raquetadas minhas em homenagem ao mestre cuja falta continuo sentindo:

- Melhor maneira de verificar, antes, se já não estou morto.
- Mas não se mata cavalos e malfeitores?
- Pelo menos eu driblaria o câncer.
- Milênio algum jamais me assustará.
- Apanhei-te horóscopo! Pura enganação!
- Levo comigo a reputação de meu terapeuta.
- Pronto, agora não voto mais mesmo! Chegou!
 - Aí está: uma cura definitiva para a calvície.
 - Enfim cavaleiro do reino de sei lá o quê.
 - A vida está pelos olhos da cara. Pra morte eles fazem um precinho especial, combinado?
 - Enfim, ano bissexto nunca mais. Esses ficam para o Jaguar. O resto pro Ziraldo.
 - Ao menos é uma boca de menos a sustentar. - Só quero ver quanta gente vai sincera no meu funeral.
 - Pronto! Inaugurei estilo novo: Arte Morta.
- Sabe que minha vida não daria um filme. O livro eu já escrevi. Deixem o desgraçado em paz, peço-lhes.
 - Custou, mas estou acima de qualquer lei que vocês bolarem aí.
- Levou tempo, mas cortei enfim meu cordão umbilical.
- Roncar, nunca mais. Nem eu nem ninguém ao meu lado.
- Que desperdício nunca ter fumado em minha vida!
- Consegui preservar o mistério sempre giarando em meu torno.
- Maioria silenciosa? Essa agora é comigo.
- Na verdade, nunca me senti à vontade nessa posição incômoda de cidadão do mundo.
 - Ei, juventude, pode vir que pelo menos uma vaga esrá aberta.
- Emagrecer é isso aqui.
- Agora é conferir se, do outro lado, sobraram tantas virgens assim.


E assim, cada vez que um "frasista" passar por perto de mim, leve uma nossa: minha e de Millôr. Dois contra um a gente ganha mole.

domingo, 22 de julho de 2012

Crônicas de um Tumor (D20)

Fascinante!
                              
                Muito bem, final semana para acalmar os ânimos. Dar aquela relaxada regada a muita comida, filmes e seriados. Umas boas risadas também estavam inclusas no pacote. A velocidade já faz parte do meu dia a dia. Acompanhei mais uma vergonha do tricolor Massa na F1, o Nelsinho Piquet ser prejudicado na Truck Series e os loucos da Nascar. Adrenalina o tempo inteiro. Bom seria poder eliminar um tumor com a mesma velocidade desses carros maravilhosos.
                Tenho passado bem apesar da imunidade baixa. O apetite diminuiu um pouco, mas continuo comendo bem. A disposição também tem aumentado. Agora estou conseguindo organizar a vida e o trabalho. Esta semana faço apenas um exame – Hemograma - na segunda-feira e se estiver tudo certo, na terça-feira completo uma aplicação de medicamento de cerca de uma hora. Bem tranquilo. Ai na próxima semana recebo mais uma sessão de cinco dias direto com quatro horas de aplicação diária. Essa é brava!
                A vida que segue tem me dado muitas oportunidades. Acredito que em breve terei novidades sobre o Blog. Como já disse anteriormente, tenho recebido muitos acessos importantes e principalmente o reconhecimento. Por isso continuarei fazendo deste espaço, um lugar público. Onde as portas estarão sempre abertas para receber o bem e inevitavelmente as críticas, sempre recebidas com entusiasmo de um eterno aprendiz. Pois como já dizia Aristóteles, a quem já representei uma vez vergonhosamente, “A primeira qualidade do estilo é a clareza”.
                Minha dica de hoje para uma vida mais interessante é tão fácil quanto andar na corda bamba, ou melhor, tão fácil quanto cozinhar dois ovos. Eu disse dois para os engraçadinhos de plantão. Mas vamos à dica. Abrace, beije, sorria e, sobretudo diga sempre a quem se ama: “Me traga o papel higiênico”. Na hora de aperto somente ela poderá te salvar.