quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Uma breve história dos presidentes do Brasil que você já viu


Quando criança, aprendi a não gostar de jiló, muito menos do José Sarney. Cresci em meio a uma mudança desorganizada criada por falsos comunistas, vestidos de vermelho, gritando palavras de ordem com o escudo do marxismo na frente como proteção divina. Diante da derrubada da ditadura meus pais me conceberam. Fui muito feliz. Meu pai um trabalhador intelectual, desenhista de máquinas até hoje usadas na construção civil. Minha mãe, uma dona de casa dedicada e minha irmã, é a melhor. Os anos foram se passando, viagens eram rotineiras. Nosso padrão de vida permitia certas extravagâncias. De repente me entendo por gente e vejo na televisão um cara bonito, cheio de energia candidato a presidência do Brasil. Outro dia, vejo alguns amigos mais velhos saírem com a cara pintada para derrubar esse mesmo cara bonito, cheio de energia. Minha cabeça vira um redemoinho. Tudo bem, vou jogar bola.


Minha idade aumenta e meu discernimento também. Começo a perceber que as coisas não andam bem. Brigas constantes em casa. Diluição familiar e tudo se rompe como num passe de mágica. Cadê meus amigos do colégio particular? Cadê o carro novo do meu pai? Não sei. Ouvi dizer que o cara bonito roubou tudo. Merda! Ligo a TV e vejo um topete tapando a minha visão, não me assustei, pois era o mais novo presidente do Brasil. Calmo como um monge budista e tão incompetente quanto a minha cachorrinha que não aprendia a fazer suas necessidades no lugar correto. Infelizmente tivemos de dar ela a outra família. Pena não poder fazer isso com aquele topete. Minhas antenas ficaram mais ligadas, mesmo assim ainda preferia jogar bola.


Ligo a TV de novo e vejo um cara de fala estranha dizendo ser o mentor do Real. Tudo bem, cada um com o seu feito. Parei de jogar bola e comecei a trabalhar como office-boy. O estudo teve de ser transferido para o período noturno. Mudei de escola e percebi que o real não havia sido inventado por aquele cara de fala estranha. O real era aquela escola, cheia de delinqüentes usando drogas enquanto o professor tentava de todas as maneiras chamar suas atenções. Real era ver meninas pulando a janela do banheiro para não tomar um tiro na bunda. Real era minha mãe preocupada em casa esperando a minha chegada sem nenhum arranhão. Não foi fácil, mas sobrevivi.


Minha idade avança e a curtição também. Baladas praticamente de segunda a segunda, viagens emocionantes, mulheres, brigas, risadas e mais risadas. O ciclo social fica cada vez mais verdejante. Sinto-me como se estivesse no seriado Miami Vice. Saudades. Percebo que o cara de fala estranha se reelege, então me pergunto. Será o Real tão importante assim? Vou criar o "Irreal"? Uma moeda tão forte, que cada centavo dela daria para comprar um carro e ainda mandar o vendedor passar férias em Cancun com uma das namoradas do 007. Mas voltando ao Real, quatro anos se passaram e nada mudou. Nada mesmo. O Brasil estagnou como um barco encalhado entre o pacífico e o atlântico.Quer saber?


Vou ligar a TV. Passo de canal e nada vejo, passo outro e nada, passo mais um e nada também. De repente vejo aquele pirata das histórias em quadrinhos. Barbudo de nove dedos…Mas espera um pouco. A bandeira do pirata mudou. Cadê aquela caveira no fundo preto? Só vejo uma estrela no fundo vermelho. Nossa, como as crianças de hoje estão caretas! Só espero que elas entendam o porque da privatização da BR101, depois de tanto dinheiro gasto na sua duplicação. Se arrependimento matasse eu seria um dos poucos a sobreviver.

Um comentário:

Anônimo disse...

Uma espécie de cólera-urbana-vitalemdiasdecaos nos invade, sempre que lemos Rafael Camaleão-Sensitivo de Pata Quebrada Costa. Cada qual em seu lugar!Surpreende sempre; seja pela generosidade ou pela cirurgicamente afiada língua. Não?