terça-feira, 3 de novembro de 2009

SAGACIDADE (FINAL)


- Você tem razão! Sussurra Casio enquanto levanta a cabeça.
- Como assim? Do que está falando?
- Olhe pra mim. Sou tão pouco vaidoso. Vou me casar com uma mulher que não conheço e nem ao menos sinto atração. Durante esses dois anos que estou junto dela apenas a vesti como meu melhor par de tênis. Nunca pensei em como seria nosso futuro. Nunca pensei nela enquanto assistia a um pôr-do-sol sozinho. Sempre pensei em alguém como você. E o que me desperta dessa farsa é um sonoro “e daí”.
- O que está tentando me dizer Casio?
- Que sou água e você a cachoeira.
- Continuo sem entender.
- Preste atenção. Olhe bem pra mim. O que você vê?
- Vejo inteligência!
- Como acha que me sinto ouvindo isso de quem acabou de me conhecer?
- Feliz!?

O sorriso de Casio surgiu em seu rosto parecendo uma onda nascendo em algum lugar de qualquer oceano. O mesmo acontece com Amy. Suas mãos se tocam novamente. A cobiça por cada corpo transforma o ambiente no paraíso da luxuria.

- Deixe-me ser você? Pergunta Amy a poucos centímetros da orelha de Casio com a voz de uma rainha.
- Você já é eu! Neste momento o amor é como uma prisão. Trava-te por dentro e fecha todos os seus sentimentos. Você só percebe o que fez depois do primeiro castigo que te faz sentir numa solitária. Então o primeiro sentimento é libertado. O arrependimento por ter amado pela primeira vez e esquecido de viver.
- Será que todo começo tem um fim? Será que todo fim termina como começou? Parece que tudo acontece sem percebemos. Fazemos tudo pelo futuro e esquecemos do presente. Não importa se o passado foi bom ou ruim. O importante é que sempre teremos algo para se lembrar!
- Quero me lembrar do seu rosto, da sua pele, do seu beijo, do seu gemido!
- Não vai precisar! Serei sempre sua lembrança mais recente!

O beijo de Amy e Casio faz a vida de qualquer pessoa que o vice parecer nada. O som do encanto entre homem e mulher deixaria qualquer maestro sem saber como reger tamanha manifestação explicita em movimentos maliciosos. O amor já havia tomado seus corpos, pois seus cérebros não os comandavam mais. A perfeita interação entre sonho e realidade ocorreu. Suas vidas já haviam se modificado.

Ao acordar amarrotado no tapete da sala. Casio se levanta deixando Amy ainda sonolenta deitada sobre suas roupas. Percorre a casa e percebe o emudecer dos cômodos. Vasculha a cozinha, os quartos, o quintal, a piscina e não encontra ninguém. Ao voltar para a sala avista um bilhete sobre a mesa:

“Conduzirei a festa até o amanhecer. Quando homens estarão jogados e mulheres desamparadas sem carona para casa. A brisa da manhã anunciará o dia e a maré batendo nas pedras corromperá o silêncio de jovens imaturos sem quaisquer preocupações sobre o que virá a acontecer naquele dia. O sol queimará a areia fofa da praia. Os bares abrirão suas portas e as cortinas dos quartos se fecharão como sinal de luto. Se tudo isso for mentira a vida será uma farsa, mas como tudo é verdade a vida não passa”.

Amy acorda. Olha para Casio parado ao lado da mesa com o pedaço de papel na mão e pergunta espreguiçando-se.

- O amor passou por aqui?

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