terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Darwin, neoliberalismo e o fim da história


Por Emerson Souza Gomes - emerson@puglieseegomes.com.br

A seleção natural de Darwin afirma, dentre outras, que os seres que melhor se adaptam ao meio, prosperam, enquanto que os menos aptos, sucumbem. Trata-se assim de um processo que tem o seu desenvolvimento desde os tempos decanos da história até os dias presentes, e que frutifica numa evolução constante das espécies. Por certo, pode-se afirmar que qualquer interferência que não seja da própria natureza, tende a abortar a evolução, o melhoramento. Bem, pode o leitor questionar: O que tem haver uma coisa com a outra? O que há na filosofia política do neoliberalismo que se relacione com Darwin, com a natureza, com evolução e com o fim da história?


Antes de tudo (antes de falar de neoliberalismo), para que não sejamos alvo de preconceito e do medo que a verdade impõe a alguns, é bom fixar com clareza hialina que devemos invariavelmente desconfiar de qualquer discurso antiindividualista. Devemos desconfiar do signo do banquinho e da locução do líder que remete: Meu povo, meu povo, meu povo!!! Sabemos que nem sempre onde há fumaça, há fogo e esta acepção coletiva da cidadania foi utilizada enormemente pelos regimes mais vis, mais totalitários, que de forma abrupta cercearam a liberdade em todos as suas flexões (e.v. nazismo, fascismo).


A despeito disso, Marx na sua letra científica enunciou que os animais precisam concorrer pois o consumo dos recursos naturais por uns pode ameaçar a sobrevivência de outros. Os seres humanos: não. Estes produzem, e se produzem até mesmo com excesso (com lucro) podem produzir coletivamente assegurando não só a sobrevivência de todos, mas a insubmissão de uns a outros. Fato é que toda doutrina coletiva acaba no final na música do mamute, posto que na história o preço mais caro da liberdade foi a vida e mesmo assim foi um preço justo. Afora Darwin, Marx e mais um turbilhão de ideólogos, políticos, cientistas, economistas e sociólogos que a humanidade revela hodiernamente, quero fazer uma pequena alusão ao cinema e sobre o que podemos entender como o fim de uma estória, como o real the end.


Dizer que "Casablanca" e "E o Vento Levou" terminaram com o the end expresso na tela de nada vale como fim, a não ser como um sinal de que devemos ir da sala às nossas casas, posto que tristeza (como disse Vinícius) não tem fim, porém erra o poeta, ao afirmar que felicidade sim. O final feliz do cinema somente exprime uma continuidade do bem, da felicidade eterna e inconcebível. Tanto no final triste como no happy end a história não chega ao seu termo, significando exclusivamente que para nós (seres bípedes, emotivos e pensadores) o sumo bem ou o mal subreptício, não merece a nossa audiência por muito tempo. Aceitamos no máximo o serialismo da teledramaturgia que nos conta sempre as mesmas estórias, os mesmos dramas, aventuras, romances, de formas artificiais (culturais), mas que nem por isso implicam numa estória de fim. Fica assim a interrogação: Qual é o fim real da estória? A inteligência de Shakespeare matou os protagonistas da sua mais ilustre: Romeu e Julieta, fazendo com que pensemos ser o fim da estória, mesmo, o fim da própria existência. Entretanto, a genialidade do autor para o fim apocalíptico, foi tão grande que Romeu e Julieta continuam ainda hoje morrendo eternamente (tal qual o Cristo na cruz), nas suas várias revisitações no teatro, na tv, no cinema, e nos remakes vários, e esta estória, senhores!, não tem fim.


Voltemos agora ao neoliberalismo e pensemos ele como darwiniano, onde a livre concorrência é uma lei econômica que provê os organismos de eficiência e de qualidade, onde a globalização (arrostada no sentido strito e atual: econômico), vem propugnando uma desfronteirização e com ela uma desnacionalização tal qual a do signo primitivo do homem saindo das cavernas, onde se antes para este as fronteiras eram apenas as naturais, hoje, para o homem moderno, o são tão somente econômicas e algumas fundamentalistas. Pensemos na exclusão do Estado que mais e mais deixa de ser um provedor do bem comum para apenas regular, espectar a ordem econômica, e atuar paliativamente na ordem social. Mais que isto, pensemos que o Estado intervém na economia quando legisla. Quando legisla positivamente direitos sociais e lembremos da livre negociação, da flexibilização das leis do trabalho, da reforma previdenciária; de que o Estado não pode intervir, posto que é anti-econômico (ou anti-natural) Decerto, fica aqui a incógnita: Isto é bom ou mal? Isto gerará evolução ou melhor, desenvolvimento?


Para uma sociedade transformista que precisa modificar sua realidade ou talvez antes unificar todas as realidades sociais de um pai-contraste chamado Brasil; que pugna por Justiça Social através de um direito feito exclusivamente pela maioria (e isto é uma tarefa hercúlea: cada cabeça, um voto. O Direito é o da maioria, mas a Justiça tem que ser para todos, afora o fato que os poderes do Estado mais se apresentam como caixa de ressonância de um poder exógeno, minoritário, e apátrida); onde o pluralismo é a pedra de roseta para se eliminar os apontamentos covardes, discriminatórios e preconceituosos que pesam em berço esplêndido sobre as minorias ou talvez sobre as maiorias minoritárias (negros, colonos, miseráveis); sermos darwinianos, hoje, é racional?...."No fundo todos somos liberais, pois amamos a liberdade, mas queremos para esta liberdade, democracia. Uma democracia social, humanizante, dignificante".


Por último, cabe novamente voltarmos ao cinema e concluirmos (como já anotado) que estória não tem fim, mas história, sim... e talvez este seja apenas um, o seu próprio começo, tal qual o reverso do mito ancestral, o do homem da caverna que sai para viver em sociedade, ... talvez façamos o caminho inverso: Voltemos pós-darwinianos para o seio da nossa escura, úmida e solitária caverna, desterrada caverna ... extremamente individualizados, medrados e violentos e aqui, infelizmente, não posso terminar esta estória! com um ponto final e sim com outra interrogação: "- Chegamos ao fim da história?"

Um comentário:

Anônimo disse...

O Neoliberalismo não é mais aquele...